terça-feira, 20 de novembro de 2012

A hipnose das lâmpadas fluorescentes



Eu sou a cidade. Na verdade eu sou um extrato ralo e insosso da cidade. Mas ainda sou a cidade. Sou o registro do inútil e o esquecimento daquilo que é primordial. O ronco do motor e o silêncio falso na hipnose das lâmpadas fluorescentes. Não sou a erva que tenta sobreviver entre as placas de concreto. Essa não sou eu. Eu sou a cerca, o arame, o muro e também o concreto. Sou esteira e arrasto. Sou fio, cabo e corda. Papel, poeira e pólvora. Não adianta entender a natureza sem me entender a mim. Eu sou a água suja que escorre pelo ralo. Sou a fumaça da ponte, do exautor e do cigarro. Eu bebo, fumo e cheiro. Eu sei, eu sou a cidade.

O olhar de desprezo, o empurrão e o tropeço, mas nunca a queda. Isso sou eu. Sou o piso forte das manhãs violentas da capital onde as guerras começam e terminam. Sou a fuligem, o ferro e a fossa. Eu bem sei, eu sou a cidade.

A cidade não lê, a cidade escreve. Sou a dona da história e mãe de todas as novidades. Sou a memória sem idade com marcas e cicatrizes. Eu sou a consciência humana confusa, prática e desordenada. Mas tudo isso eu sei, eu sou a cidade.

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