domingo, 31 de maio de 2009

Bata aqui o seu coração


De cabeça baixa ela chorava sozinha sentada no banco da praça vazia. Ninguém podia ouvir seus soluços afogados. Não havia pássaros nas árvores, portanto não havia canto. Só tinha o vento frio uivando, espalhando folhas e secando lágrimas.

Era um pranto sofrido. Eram lágrimas de um inevitável. Podiam ser da dor da morte, podiam ser da dor do amor, podiam ser até da dor de nunca sentir dor. Podia ser a inocência perdida ou promessas esquecidas trancadas à espera de um anjo consolador.

Não demorou muito e ela se levantou. Fungou, secou os olhos, olhou a sua volta e partiu. Desceu a rua devagar. O semblante parecia de alívio, mas era só a indiferença de um mundo onde as emoções são proibidas.

Quando ela já ia longe, dobrando a esquina três quarteirões dali, um homem sentou-se naquele mesmo banco. Ele baixou a cabeça e começou a chorar. Levava as duas mãos ao rosto, como quem estivesse vergonhoso de chorar. Ou será que chorava de vergonha?

Um comentário:

Cristina Caetano disse...

Já fiz exatamente isso. Morava num local que me permitia essa solidão e esse abandono sem ninguém pra me perturbar. Saía renovada.

Beijinhos